2016-09-29

Resistência à mudança


Sempre me irritou o argumento de que alguém estava a resistir à mudança, pareceu-me sempre que se tratava de uma figura de retórica, chamando ao oponente uma pessoa inflexível e incapaz de se adaptar ao mundo que muda tão depressa, como se todas as mudanças fossem benéficas para toda a gente.

Os anglo-saxões usam às vezes a expressão “only wet babies like change” querendo insinuar que toda a gente resiste à mudança à excepção dos bébés que gostam que mudem as fraldas quando estão molhadas. Ora esta expressão acaba por revelar que existem mudanças que até um bébé é capaz de identificar como positivas, neste caso a mudança da fralda molhada por uma seca.

De uma forma geral as pessoas gostam das mudanças que melhoram a sua vida, por exemplo nunca vi ninguém protestar por lhe aumentarem o ordenado, não gostam de mudanças em que perdem estabilidade do emprego e nalguns casos, na ausência de uma vantagem clara da nova situação, preferem a situação em que estão cujas vantagens e inconvenientes são bem conhecidos.

Esta é aliás a posição conservadora, de manter o que está a funcionar de forma satisfatória em vez de embarcar nos amanhãs que cantam. É portanto com alguma pseudo-surpresa que vejo a direita conservadora tão entusiasmada a clamar por reformas, que adjectivaram de “estruturais” quando se trata de um eufemismo para reduzir salários e pensões e diminuir a estabilidade do emprego, facilitando despedimentos e a mudança de local de trabalho.

E é por isso com alguma ironia que vejo agora a direita portuguesa a clamar por estabilidade fiscal, para atrair os investidores. Então agora querem resistir à mudança? Neste mundo sempre em movimento querem que os impostos sejam eternos? Os impostos não podem ser estruturalmente reformados? Diz que é para atrair os investidores que essa estabilidade é necessária. Os investidores também não virão se os contratos precários continuarem e não encontrem portugueses disponíveis para trabalhar nas suas empresas localizadas em Portugal, preferindo os portugueses deslocalizar-se para países onde existam contratos de trabalho bem pagos e que dêem alguma estabilidade.

A estabilidade tanto é boa para o quadro legal e fiscal como para o quadro laboral e para a segurança do emprego.



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