2017-12-27

Balões bomba japoneses




Através deste obituário do soldado americano Clarence Beavers do jornal Expresso tomei conhecimento da existência de uma unidade do exército americano que teve como uma das tarefas apagar incêndios florestais, sobretudo na Califórnia, causados por balões incendiários lançados pelo Japão durante a segunda grande guerra.

A notícia tem aspectos muito curiosos, começando pela capacidade do Japão explorar a existência de  correntes de jacto (jet streams), que são correntes de ar que ocorrem entre os 9 e os 12 km de altitude, com velocidades que podem atingir 160km/h e que entre os 30 e 60 graus de latitude sopram de oeste para leste, para bombardear os EUA.

A existência destes ventos afecta bastante os tempos de viagem intercontinentais, por exemplo da Europa para a América do Norte ou para o Extremo-Oriente. Tendencialmente as viagens para leste são mais breves para igual distância (ou gastam menos combustível) mas como estas correntes de ar são instáveis criam incerteza na hora de chegada ao destino.

Diziam que um balão destes demorava 3 dias a percorrer a distância desde o Japão até à costa oeste dos EUA. No Google Earth vi que da ilha mais ao norte do Japão até ao norte da Califórnia são 7200km, até Los Angeles 8000km. Dividindo 7200km por 3 dias dá 2400km/dia, com uma velocidade média de 100km/h o balão conseguiria fazer a viagem em 3 dias.

Os balões eram de hidrogénio e causaram alguns incêndios na costa Oeste. Contudo os jornais americanos contactados pelas autoridades, após uma ou duas notícias sobre balões misteriosos, autocensuraram-se com grande êxito provocando o abandono do programa por parte do Japão pois os estragos provocados pelos balões não eram visíveis nos jornais.

A seguir mostro uma foto de um destes balões, recuperado pela Marinha dos EUA, com uma figura humana ao lado dando a escala


Curiosa também a existência de uma espécie de apartheid no exército americano, com unidades compostas exclusivamente por negros. Pensei que em Portugal não existia esta situação mas depois constatei que na "metrópole", no início da última guerra colonial, os negros que existiam eram os cabo-verdianos que tinham começado a vir trabalhar para as obras para substituir a  mão-de-obra que emigrara para França. Assim, os batalhões mobilizados para a Guiné-Bissau, onde eu estive durante um ano, eram formados na metrópole e não me lembro de ver pessoas de cor.

Na Guiné existiam os "Comandos africanos" unidades militares compostas por guineenses e possivelmente cabo-verdianos, provavelmente enquadradas por oficiais da metrópole.

Se Portugal fosse um Estado Unitário, como nos queriam fazer crer na disciplina de "Organização Política e Administrativa da Nação", os jovens recrutas de todo o Império deveriam ir prestar o serviço militar obrigatório em sítios diferentes da terra em que tinham nascido, como se fazia dentro da metrópole. Não faço ideia das regras seguidas em Angola, Moçambique etc., mas sei que não havia mistura significativa de colónia para colónia, muito menos para a metrópole.

É também curioso notar como o Pacífico não é uma separação tão grande como parece à primeira vista, que a primeira arma de alcance intercontinental foram estes balões japoneses e que próximo do Japão se situa a Coreia do Norte, que pretende ameaçar os EUA, desta vez com mísseis de alcance intercontinental.

E ainda que a Califórnia tem tido neste ano incêndios de proporções enormes devido principalmente a alterações climáticas cuja principal responsável tem sido a nação americana.

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